A
Vida e a Arte de Ronara Criola
Por
Raquel Rocha
A
cantora Ronara Chagas Santos, conhecida com Ronara Criola, nasceu em Sapeaçu na
Bahia mas hoje vive em Itacaré. Além de cantora é pedagoga e atua como
professora. Ronara define sua carreira como cercada de altos e baixos. Ela
começou cantando música popular se
apresentando em bares, casamentos e eventos particulares mas com o tempo
foi encorajada a ousar nas composições autorias, participando de festivais e
concursos que fomentam a música da cena independente. Ronara tem buscado novas
influências de estilos musicais e adaptado seu trabalho sempre com a
preocupação de não descaracterizar as raízes daquilo que acredito, que são as
músicas de quilombos e terreiros.
Como
a música surgiu em sua vida?
A
musicalidade vem de família. Desde a infância participava das rezas na casa da
sua avó materna ao som do violão do tio João e na adolescência em show de
calouros nas quermesses da cidade. Já na fase adulta precisou dar uma pausa
para atender a outras necessidades como estudos e formação familiar. Já com os
filhos crescidos, retoma a música como trabalho, participa de formações
musicais para se apresentar em barzinhos e shows pela região.
Quais
foram suas principais influências?
O
tio João foi a principal influência de casa por ser músico profissional e sempre
nas horas vagas fazer questão da minha presença nas rodas de samba e seresta, o
que me instrumentalizou. A nível nacional
minhas principais influências são as divas do samba Dona Ivone Lara,
Clara Nunes, Alcione, Beth Carvalho.
Quais
as maiores dificuldades enfrentadas?
Alcançar
mercado. As políticas públicas de fomento e formação na área da música na Bahia
são escassas. Daí os artistas que querem seguir carreira profissional precisam
sair para outros estados. Além do custo alto muitas vezes não há um devido
preparo para disputar espaços já consolidados.
Nossa,
são vários pequenos momentos mas que me deixam muito feliz. Por exemplo, quando
alguém diz que ouviu minha música tocando na rádio (mesmo ainda sendo na
local). Outro exemplo foi um dia desses uma aluna me encontrou na rua e me
abraçou dizendo “tia, lá em casa tem um vídeo seu. A gente gosta muito”. Uma das maiores vitórias foi ter sido
selecionada para o Mapa Musical da Bahia e entrar para a primeira coletânea do
projeto em 2013. Daí em diante a crítica especializada começou a prestar
atenção fora do eixo da capital.
Como
você vê a valorização dos músicos na região?
Sinto
que ainda temos muito o que avançar, principalmente quando se trata do
interior. É necessário mais espaços para fomento, produção e circulação da
música regional. Outra coisa que precisa mudar é o entendimento dos
contratantes que insistem em não ver a música enquanto profissão e fazem
propostas muitas vezes até desrespeitosa.
O
que faria de novo e o que não faria na sua carreira?
Ahhh
faria mais rodas de samba na casa da minha avó com tio João mas infelizmente
eles já estão em outro plano. Profissionalmente falando enviaria novamente a
minha primeira composição a uma artista que sou fã, (mas dessa vez entregaria
em mãos rsrsr). Quanto ao que eu não faria, não aceitaria determinadas
propostas.
Como
seria viver sem a música?
Com
certeza minha vida seria vazia. Apesar da arte ser ingrata, (porque só quem faz
é quem sabe a dor e a delícia de viver de arte), viver sem a arte é como não
ter alma. É o que me dá equilíbrio, alívio, alegria. Olhar de cima do palco e
ver a plateia cantando junto comigo, é impagável.