PACO DE LUCÍA: MITO, LENDA, SOM ABSOLUTO!


            Está bem, eu sei que os gênios não morrem, porque são sempre lembrados por gerações e gerações... Mas, dói... Dói muito saber que os gênios são mortais! Pode parecer óbvio e ululante, e é. Contudo, quem ama Arte e admira um artista ou alguns artistas, ou todos! sempre se espanta com essa abrupta descoberta da finitude... Eu me espanto: por amor à Arte nunca penso (nem sinto) que esses gênios um dia (qualquer dia) podem morrer...

            Paco de Lucía, nome artístico de Francisco Sánchez Gomes foi um violonista/guitarrista espanhol de flamenco reconhecido internacionalmente. Fez carreira como compositor, produtor e violonista faleceu(?!) no último dia 26 de fevereiro. Mas, com assim faleceu? É isso: o corpo físico de Paco se foi. No entanto, sua Arte espetacular já está eternizada nos corações de quem ama a sensibilidade, a leveza, a magia, a delicadeza e o virtuosismo!

            A morte(?!) de Paco de Lucía quer dizer que viveremos a partir de agora num mundo mais caótico e obviamente muito, muito menos musical. O violão/guitarra de Paco mudou rumou musical que já estava estabelecido, mudou mentalidades, enalteceu o som. E tudo isso me chamou atenção quando ouvi Paco de Lucía, Al di Meola e John McLaughlin no disco (naqueles anos ’80 eram discos, e de de vinil!) “Friday Night In San Francisco”. De Lucía era rigoroso no estilo, ágil, sublime, versátil e elegante. Tinha cadência, alma e luz nos dedos quando interpretava e/ou sublimava com seu violão/guitarra o flamenco ou qualquer outro estilo!

Certa feita numa entrevista, Paco declarou: “Quando chega o duende da inspiração tenho a sensação de que me vou, que saio fora de mim, que flutuo no ar”. Certamente não era impressão... Ele levitava e nos fazia levitar também! Em outra entrevista revelou, modesto: “Quando eu era pequeno, o flamenco era um gênero muito fechado, era “talibânico”. Mudar uma nota era um sacrilégio. O que fiz foi abrir uma porta, para entrar novos ares, mas sempre respeitando a tradição. Fiz uma ponte entre a tradição e a modernidade”. Fez, sim, mais que uma ponte: derrubou as fronteiras, revolucionou, encantou...

Comparo, ainda que reconhecendo que comparações artísticas de alto nível trazem, no mínimo, certo desconforto, a genialidade de Paco de Lucía com a de outra grande gênio: Gabriel Garcia Márquez: escritor, jornalista, editor, e ativista político colombiano. Considerado um dos escritores mais importantes do século 20. Autor do incomparável e inesquecível “Cem anos de solidão”. Maravilhosos!
Paco de Lucía também divinizou o jazz e até música brasileira. Ao lado dos geniais Al di Meola e McLaughlin, em 1981 e 1996, gravaram versões instrumentais de Egberto Gismonti e Bonfá, respectivamente, “Frevo Rasgado” e “Manhã de Carnaval”. No entanto, a paixão pelo flamenco norteou grande parte de sua carreira. Porém, isso não o limitou (os gênios não conhecem limites!) e Paco transitou também, magistralmente, pelos clássicos (De Falla e Concierto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo) e pelo pop (gravou com Bryan Adams), sempre com o mesmo brilhantismo.

A de Algeciras, sua cidade natal, decretou três dias de luto oficial. Segundo o prefeito, José Ignacio Landaluce, “a morte de Paco de Lucía transforma seu gênio em uma lenda”. Mais, não apenas isso. Paco de Lucía já era em vida uma lenda, um mito! Agora ele se transformou em som absoluto!



Cláudio Zumaeta - Historiador graduado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, Ilhéus – BA)  Administrador de Empresas graduado pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL, Salvador – BA). Especialista em História do Brasil (UESC, Ilhéus – BA). Membro da Academia Grapiúna de Letras (AGRAL).

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