Entrevista com o Cineasta Bernard Attal



Por Raquel Rocha

Ator mirim dos 14 aos 18 anos, Bernard Attal acabou se graduando mais tarde em Literatura e Economia. Abriu uma empresa e trabalhou com investimentos nos EUA e demorou algum tempo até que ele resolvesse jogar tudo para o alto e se arriscar na carreira de cineasta.

De lá para cá foram 5 filmes. Três curta metragens: 29 Polegadas, Ilha do Rato, Passeio de Bicicleta. Um documentário de 52 min para TV Brasil: Os Magníficos e o premiadíssimo longa metragem “A Coleção Invisível” estreado em 2013.

Diz que literatura é a grande paixão da sua vida, adora ler. Reflexo disso são seus roteiros belíssimos e as referências utilizadas, como por exemplo o conto de Stefan Zweig no qual seu ultimo filme foi inspirado. Além da literatura o Brasil é outra paixão, para nossa felicidade, que recebemos de presente da França esse ser humano maravilhoso e cineasta incrível que tem muito ainda a nos encantar.

Obrigada Bernard

Por seus filmes belíssimos, pelo amor que você dedica ao Brasil e por essa entrevista


1.  Você ainda atua?
Fui ator mirim das 14 anos ate 18 anos. Fiz um pouco de cinema e muito teatro. Não atuo mais. Até que eu gostaria, mas o diretor Bernard Attal não quer arriscar com esse ator que não trabalha há quase trinta anos. Preciso convencer outro diretor.

2. Como começou no cinema?
Já na época em que trabalhava como ator mirim, brincava com uma câmera super 8. Só que demorou muitos anos para ter a coragem de me jogar no rio e me dedicar a isso. Estudei cinema na New School em Nova Iorque e de lá, comecei a fazer curtas.

3. Qual foi seu primeiro trabalho no audiovisual?
Foi o curta “29 Polegadas”, que rodou em mais de quarenta festivais no Brasil e no exterior.


4. Quando veio ao Brasil pela primeira vez?
Em 1997. Foi uma viagem professional. Voltei algumas vezes, me apaixonei e resolvi morar aqui em 2004.

5.  Do que você gosta e do que você não gosta no Brasil?
Eu gosto da informalidade, do humor e do carinho do povo brasileiro. Eu gosto da poesia da língua. Eu gosto do sentimentalismo das pessoas, esse jeito de se emocionar por pouco (por exemplo quando leva família no aeroporto). Eu não gosto do preconceito social e racial que infelizmente se encontra muito na suposta elite do pais. Eu também acho que os brasileiros deveriam valorizar mais sua própria cultura e seu patrimônio histórico, e reconsiderar esse fascínio que muitos tem para a cultura e o modo de viver americanos.
  
6. Por que escolheu o Sul da Bahia pra rodar 2 dos seus filmes?
Cheguei na Bahia por causa dos romances de Jorge Amado que na minha adolescência criaram todo um universo na minha imaginação. Então foi uma coisa natural querer filmar nessa região.

7.  Como foi a experiência de gravar Coleção Invisível?
Foi muito bom. O povo colaborou bastante. Nunca fomos incomodados em nosso trabalho, pelo contrario. No ultimo dia de gravação, eu lembro que tinha uma multidão esperando para se despedir de Vladimir Brichta. E Vladimir sentiu a força espiritual do povo e foi agradecer eles debaixo da chuva pelo respeito, pelo apoio, pelo amor. Foi emocionante.

8. Quais prêmios Coleção Invisível recebeu e o que eles significam pra você?
Ganhamos três prémios de Melhor Filme (em Gramado, Lisboa e Bogotá), dois de Melhor Ator Coadjuvante (para Walmor Chagas) e Melhor Atriz Coadjuvante (para Clarisse Abujamra) ambos em Gramado, e finalmente de Melhor Figurino em Maringá. Prémios são importantes para o próprio ego e para a equipe, porque fazer um filme é um batalha dura e longa. Do outro lado, tem que relativizar porque já vi bastante filmes que eu não gostei, receber prémios de uma maneira por mim incompreensível.

9. Se você fosse rodar Coleção Invisível novamente faria algo diferente?
No final, o filme ficou muito perto do meu sonho e estou feliz com ele. Mas acho que eu filmei demais, joguei fora muito material. Hoje eu trabalharia mais no roteiro para não arriscar filmar coisas sem necessidade e ter um material mais focado.

10. Dentre seus trabalhos, existe um que você gosta mais?
Eu não escolho entre meus filhos. Amo todos eles, mesmo os mais deficientes. Não significa que eu não vejo os problemas de cada um, mas sei da soma de amor e de trabalho, de mim e da minha equipe, para cria-los.

11.   Quais são suas referências no Cinema?
Jean Renoir, Maurice Pialat, Eduardo Coutinho, Billy Wilder, Michael Powell, Ernst Lubitsch, Ozu, Leon Hirszman.

12. Qual filme marcou sua vida?
A Grande Ilusão, de Jean Renoir. Com o pano de fundo  da Primeira Guerra Mundial, ele consegue misturar comedia e tragédia e tem um olhar verdadeiro e carinhoso sobre os conflitos de classes sociais.

13. Você se sente valorizado no Brasil?
Eu sei que o fato de um estrangeiro, mesmo instalado há muitos anos no Brasil, fazendo um filme como A Coleção Invisível tão mergulhado na realidade social brasileira (alias uma realidade que ficou ignorada por muitos anos) surpreendeu e as vezes incomodou alguns. Então o filme sofreu um pouco desse preconceito na sua divulgação. Mas do outro lado, recebi tantas testemunhas de pessoas que se apaixonaram pelo filme, que mostraram uma compreensão tão aguda dele, que eu não tenho motivo de me queixar. No final, o filme foi lançado em dez capitais do pais, ficou em cartaz cinco meses. Não sei se teria conseguido o mesmo resultado com um primeiro longa metragem em outro pais. 

14.  Já está pensando ou trabalhando em um novo filme? 

Sim, claro. Não tenho nada definitivo mas estou brincando na minha cabeça com várias ideias.

Mas vai demorar porque tenho um processo criativo um pouco devagar. 


Nós esperaremos ansiosos!!!





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