Entrevista: POLA RIBEIRO



Por Raquel Rocha 

Baiano nascido em Salvador, o cineasta Pola Ribeiro fez seu primeiro filme junto com amigos aos 18 anos, durante um curso livre de cinema. Esse foi um marco em sua vida e nos próximos 40 anos sua trajetória sua vida estaria ligada ao cinema, direta ou indiretamente.

Com mais de 40 obras em sua filmografia, seu processo de criação perpassa por uma intensa entrega, exposição e responsabilidade. Pola cita três filmes seus, em especial: República de Canudos (1989),   Lenda do Pai Inácio (1987) e Jardim das Folhas Sagradas (2007). Em relação a este último, o cineasta declara afetuosamente “esse filme eu posso dizer que eu realizei ele e eu também fui realizado.”

Para produzir bons filmes é preciso gostar de bons filmes, afinal somos feitos de nossas referências, das coisas que aprendemos a amar, ou descobrimos amar, num processo de encontro com algo que, de alguma forma,  já estava dentro de nós. Sim, esta entrevistadora fez a pergunta mais cruel que se pode fazer a um cinéfilo, “Quais seus filmes preferidos?”

Nessa entrevista Pola discorre sobre o mercado de cinema, os debates acerca do audiovisual na atualidade, seus filmes e sua intimidade. Também dá uma aula sobre o que é TV Educativa.

Em suas várias facetas: cineasta, comunicador, militante, gestor público, jornalista, professor, Pola é sinônimo de pluralidade e um homem apaixonado pela cultura em todas as suas formas de expressão.


Obrigada Pola!




Por que se decidiu pela comunicação?
Eu me decidi por comunicação porque o homem é o que ele criou enquanto cultura e o que ele consegue comunicar; Então é uma coisa essencial da vida e que parece, na sociedade atual, que é sempre uma coisa dos outros, que vem dos outros e que atinge a gente, quando na verdade é algo que é produzido cotidianamente pela gente e que hoje, via tecnologia, a gente pode também se expressar para que o mundo todo compartilhe. Então eu acho que comunicação é o nosso dia-a-dia, é o que nos diferencia é o que nos aproxima, é o que nos permite as trocas, os conhecimentos. Então eu acho que é uma coisa muito presente no dia-a-dia na vida das pessoas.

Com que idade começou a fazer filmes?
Bem...  A idade que eu comecei a fazer filme na verdade foi muito cedo. Filmes de Cabeça, filme de criação, filmes de pensamento, filme...
Agora, com 18 anos eu fiz o primeiro filme com amigos, filme com a produção de cinema, uma produção que quando eu percebi que era possível fazer cinema na Bahia, que essa atividade era viável.
O momento exato onde isso aconteceu foi quando eu fazia um curso livre de cinema ministrado pelo professor Guido Araújo que chegou na sala para fazer uma visita...  Uma pessoa que era colega de escola. Mais adiantado, mais velho que eu, mas era um colega de escola que tinha ido embora para São Paulo junto com o Teatro Oficina e que voltava depois de seis a oito meses com u filme preto e branco 16mm realizado com o teatro oficina em São Paulo dentro do Pacaembu. E quando eu vi Roberto Duarte que era esse colega de escola apresentando um filme que ele tina produzido e ele tinha dirigido eu entendi que essa era uma atividade que era possível de ser feita, e aí a vida mudou. Eu não via mais o cinema como algo de eu ver e entender, mas como algo que eu podia me expressar através dele, fazer, realizar e produzir, e ai não parou mais porque eu fui tendo prazer em trabalhar em equipe  - que foi  a  coisa que me deixou no cinema durante mais tempo, durante todo o processo que eu trabalhei mais diretamente com cinema .

O mercado de cinema era melhor hoje do que nos anos 70 e 80?

Enquanto ao mercado de cinema... na verdade o cinema expandiu para uma situação de audiovisual, de televisão e nós estamos vivendo 25 anos continuo de processo democrático – que é o maior tempo na história do brasil de um processo democrático – então a democracia dialoga muito com o cinema, dialoga muito com o mercado de trabalho, então assim o mercado de trabalho para o produto audiovisual, esse aumentou consideravelmente; algumas leis criaram a possibilidade de que o produto audiovisual entrasse na televisão, dialogasse com espaços dentro do cinema... mas ainda é um mercado muito dominado pela produção estrangeira. Então nos estamos precisando aproveitar nossa diversidade cultural, o tamanho desse país, a riqueza da nossa narrativa, da nossa música, dos nossos atores, da nossa literatura e do nosso cotidiano, da forma de viver do brasileiro, especificamente do baiano, uma forma especial de se relacionar com o resto do planeta... talvez por ai a gente possa contagiar e seduzir o planeta a conhecer os nossos produtos culturais e a ponta, a porta de entrada disso certamente será o audiovisual, certamente será o cinema. Então eu ouso dizer que é um mercado em expansão, que hoje tem recursos para a produção , e que vamos descobrir meios e ampliar os espaços de produção, de colocação desses filmes, dessas produções no mercado, ampliando eles cada vez mais.

(foto abaixo: iBahia)
O que você acha das produções audiovisuais baianas da atualidade?

O que eu sinto é que tem um momento de crise, de uma crise produtiva, mas de uma crise; onde a gente ainda vive da cultura do cinema de autor, onde um realizador cria uma história, pensa uma história e ele se dedica a aquela história, ele pesquisa, constrói um roteiro, capta recursos, ele ganha editais para fazer os filmes, toca o filme, monta uma equipe de produção... enfim, ele faz todo o processo de produção e coloca esse filme num mercado precário que existe. Então isso é uma coisa que existe e que o brasileiro que faz cinema aprendeu a fazer, a outra é essa realidade de expansão de um mercado, onde foi identificado um possível mercado interno e um mercado externo onde o Brasil, que é a sétima economia do mundo, só ocupa menos de 1% desse mercado mundial; então estrategicamente se pensa que o Brasil tem condições de ampliar mercado, trazendo mais renda, mais recursos para o país; Então isso é uma realidade que as politicas do audiovisual estão direcionadas, nesse sentido e o cineasta baiano, ele está vivendo hoje o que eu chamei dessa crise, entre uma politica audiovisual que aponta para uma relação de mercado, e ele que deseja o mercado mas ainda está formando dentro da construção do filme de autor, que é a nossa tradição, que começou... desde sempre e teve expoentes como Glauber Rocha e tal... então eu acho que é uma crise, mas é uma crise produtiva; logo eu acredito que, se mantendo o processo democrático e as politicas pró audiovisual, o mercado vai se reorganizar dentro de uma perspectiva, que eu espero, que atenda o mercado mas que também permita que  trabalhos mais individualizados, mais autorais, mais experimentais, mais criativos, inovadores tenham espaço dentro desse mercado.

Para você, o que é cultura?
Essa pergunta ‘’o que é cultura?’’ é das mais simples, mas também das mais difíceis de responder, na tampa; pra você ter uma ideia, no governo Wagner, o secretario Marcio Meirelles, criou toda uma coleção de livros e de debates e fez uma conferencia estadual de cultura que o mote(?) era ‘Cultura é o que?’, quer dizer... essa discursão de o que é de fato cultura e quais seriam os parâmetros para desenvolver politicas publicas, de atuação, na área de cultura. A principio cultura é tudo que é produzido pela mão humana, pela cabeça humana, pelo pensamento humano... agora, o que nos tratamos de cultura enquanto politicas publicas pra que possa se desenvolver um processo de ajustamento de relações entre o mercado com a sociedade e o estado; essa é uma definição mais precisa, onde a gente vai fazer tudo o que o ser humano produz  para se expressar, para se relacionar com o outro, num campo que não é da materialidade, simplesmente do cotidiano, mas algo onde ele trabalha com pensamentos, rituais e arte e coisas que o colocam e colaboram com sua relação de convívio com a sociedade. Acho que ainda é um termo bastante discutido e acho que é uma discursão que não vai parar, porque ela tem um grau de mobilidade muito grande, no que pode ser atuação do estado em relação a essa ação. Agora, cultura é quase tudo que nos produzimos, por exemplo quando você vê o teatro Castro Alves ele é fruto de uma cultura, assim como o Elevador Lacerda é fruto de uma cultura, como o motor de uma Mercedes-Benz é fruto de uma cultura; agora nós estamos tratando especificamente de politicas culturais, ou seja de possibilidades das politicas de cultura e das tradições culturais e das inovações na área de cultura se transformarem em politicas publicas para uma atuação organizada do poder publico, do estado que em ultima analise trabalha com o dinheiro das pessoas.


Qual trabalho seu você mais gosta? Porquê?
Bem, esta pergunta de qual o trabalho que eu mais gosto é engraçada porque eu vou falar no âmbito de qual o filme que eu mais me sinto mais contemplado de ter realizado, e ai... cada filme tem uma história, cada filme tem uma composição de acordo com o momento onde ele foi feito, com as pessoas com as quais ele foi feito e a necessidade que você tinha de se relacionar com aqueles assuntos e de falar sobre eles, então em algum momento REPUBLICA DE CANUDOS foi um filme importantíssimo, porque eu conheci um território da Bahia que eu conhecia pouco, era a região do deserto baiano, por assim dizer, mas conheci a vida daquelas pessoas, a luta daquelas pessoas, como elas dispunham de um arcabouço de falar sobre a sua vida e sobre a sua luta e como a gente pode se relacionar, tendo vivencias totalmente diferentes, na época, eu Jorge Alfredo, Moises e tal, com aqueles sertanejos e luta de violência mesmo na região  do Canudos, Uaua, Monte Santo e tal, então esse filme foi muito gratificante de ter sido feito, porque tinha um relacionamento interno desse grupo que estava operando junto e tinha o relacionamento com aquelas pessoas daqueles lugares. A LENDA DO PAI INÁCIO, é um filme que aconteceu mais ou menos essa mesma coisa, junto a Chapada Diamantina, um lugar que eu tava morando, até um pouco afastado do cinema, um pouco mais ligado ao cineclubismo nesse momento e de repente veio esse filme que mobilizou toda  uma cidade pra falar de um território que naquele momento estava se transformando em parque nacional , ou seja o filme que acontecia junto com o reconhecimento que o território tava tendo, e isso terminou repercutindo nas pessoas das cidades por onde esse filme passou. E JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS que eu pude ter um aprendizado, talvez um dos maiores da minha vida, o filme que eu levei mais tempo fazendo, mais de dez anos e eu pude conhecer coisas que realmente foram mudando a minha vida; eu diria assim, talvez esse seja o mais importante que foi o meu ultimo grande projeto, não me vejo fazendo um grande projeto desse tipo novamente, mas assim, lembro de meu pai quando eu fiz minha primeira casa que ele dizia assim ‘’meu filho, você acha que está fazendo a casa, mas é a casa que está e fazendo’’ então, esse filme eu posso dizer que eu realizei ele e eu também fui realizado, fui feito muito, pelo processo de construção dele, então um filme mais emblemático, que mais pessoas viram que cumpriu todas as demandas do mercado, de exibição, de divulgação, de repercussão. Eu tenho vontade de dizer assim, o que eu mais gosto é o próximo, mas como o próximo eu vou responder na ultima pergunta o que eu vou fazer daqui pra frente, então fica sendo o Jardim como o ultimo filme que eu realizei, de grande porte; porque está me dando um grande prazer hoje, fazer os pequenos filmes, com minha câmera pequenininha, com meu celular e que eu coloco na internet.


Como é o seu processo de criação?


Meu processo de criação funciona sempre na relação direta com as coisas, com o tema, eu me jogo com um processo de escuta grande em relação ao tema, tento absorver o máximo possível, falar o mínimo possível, ouvir tudo o que eu puder, ouvir os pontos de vistas mais diversos, me contaminar com aquela situação, me apaixonar por aquele processo e ai tentar ter a capacidade de traduzir isso em um filme ou em alguns filmes, alguma estratégia audiovisual; então é esse o processo, da minha criação mais próxima de mim, hoje que eu expandi do cinema para as discussões de comunicação publica, meu processo de criação passa por animar as pessoas para produzirem e como que essa produção interfere na vida da sociedade; ou seja aí também é um trabalho direto, onde eu trabalho com pessoas, com equipes, com projetos e também me jogo muito diretamente em ver como que esse projeto se relaciona, com um grau de exposição muito grande e esse grau de exposição é o que projeta também minha responsabilidade em relação ao projeto, eu fico totalmente aberto para o projeto aí eu tenho que cuidar dele como tenho que cuidar de mim mesmo.

Cite os 5 melhores filmes de todos os tempos na sua opinião.

Os melhores filmes de todos esses tempos... eu fico meio agoniado com essa pergunta porque eles também são piores ou melhores a depender da situação, a depender do contexto. Filmes que me marcaram muito profundamente, eu diria que tem um de Godard chamado PIERROT LE FOU, que tem um ar de Anarquia na produção dele que me contemplava muito naquele momento, então é um filme que eu tenho um carinho especial, e que eu, de alguma forma, traduzi ele em outros filmes que eu fiz e outras cenas o Pierrot Le Fuo com Jean-Paul Belmondo. O outro filme é UM HOMEN COM A CÂMERA DE DZIGA VERTOV. Dziga Vertov era um pensador do cinema soviético no inicio do século passado e que, quando eu assisti Um Homem com uma Câmera, eu fiquei muito impressionado como ele traduzia no filme as coisas que ele pensava e como aquilo de alguma maneira se traduzia num processo revolucionário ligando o audiovisual, ou seja a força de uma revolução que acontecia num país, sendo traduzida para uma expressão audiovisual, que entrava diretamente em conflito com a outra maneira de fazer cinema no mesmo início do século, no mesmo país que era a forma de Eisenstein fazer seus filmes, e que também é um filme que me impressionou muito, ou seja são dois filmes que dialogavam, quase que brigavam entre si, mas que os dois me contemplam como os dois filmes dos mais importantes da história, no caso O ENCOURAÇADO POTENKIM de Serguei Eisenstein. O TERRA EM TRANSE de Glauber Rocha, acho que é um filme que eu vi em varias etapas diferentes da minha vida, a primeira eu não entendi quase nada, depois eu fui entendendo mais, depois eu fui me apaixonando e acho um filme apaixonante, hoje no momento ele é um filme que dialoga comigo totalmente, porque ele discute a mesma tradução, a mesma interpretação que eu tento ter da sociedade hoje, que é um projeto politico que dialoga com a poesia, com a estética e acho que Glauber consegue fazer isso de uma forma totalmente inquietante, bem realizado em Terra em Transe, com o maior elenco do cinema brasileiro, com uma economia de meios, mas com elenco maravilhoso e uma ousadia pouco vista na cinematografia do mundo. E outro filme com todo o pueril que ele possa trazer dessa resposta, ele é cativante por ser um filme que soube dialogar com as crianças, na forma mesmo, na linguagem, na forma de botar uma câmera ao nível do olhar da criança o tempo todo no filme, de apontar pra essa eterna curiosidade nossa de ‘’temos ou não temos et’s, extraterrenos, convivemos ou não convivemos com eles? E acho que é de uma delicadeza fantástica e de um filme totalmente do mercado, então eu trago esse filme como um dos melhores, no sentido de que é um filme do mundo, de um dos cineastas mais importantes do mundo, no sentido de pensar o mercado mundial como um mercado dele, quando ele faz um filme ele está pensa no mundo, pra exibir o filme dele,  e as vezes na Bahia a gente faz um filme pensando no Rio Vermelho, ele faz um filme pensando no mundo inteiro, então isso dá uma dimensão de ser do mundo um dos filmes mais importantes, é ET, um filme que me comove ainda hoje e me comoveu sempre.

Cite os 5 melhores livros de todos os tempos na sua opinião.

Agora os livros melhores de todos os tempos, eu não vou responder isso não, porque assim, livros são muitos e eles tem importância incomensurável, quer dizer tem os grandes livros do mundo, que eu não posso dizer que Al Corão é mais importante que a Biblia, que é mais importante do que enfim. Os livros traduzem pensamentos milenares e é difícil falar quais os mais importantes, agora... tem livros livros que marcam muito quando você está lendo, que dialoga com você, as vezes é uma coisa boba, que pode ser um romance de Aqualusa ou de Mia Couto ou um trecho de Jorge Amado ou O GRANDE SERTÃO VEREDAS, que é um livro que sempre que eu posso, que eu vejo numa estante, eu não resisto a puxar ele dá estante, abrir em qualquer lugar e ler um trecho, então assim é um livro que tem uma carga poética tão forte, que uma pagina que eu leio me alimenta durante semanas, então talvez esse seja um dos livros mais importantes do mundo eu acho, do meu mundo. O Grande Sertão Veredas, e quando eu viajo pra região, hoje em dia eu tenho viajado bastante, eu consigo ver nos personagens e sinto vontade de retomar ele, vou comprar um exemplar, porque já tive dois e dei, vou comprar mais um pra estar comigo quando eu viajar e poder estar abrindo e lendo um trecho qualquer dele que em contempla totalmente.

Cinema ou Televisão?
Essa dicotomia de cinema e televisão eu prefiro tratar essas coisas como audiovisual, quando eu não estou cansado, quando eu estou disposto, um dos maiores prazer para mim é entrar numa sala escura de cinema e dialogar com um filme, ninguém falando nada do meu lado, eu e o filme, eu e aquela tela, eu e aquele pensamento daquele diretor, eu e a atuação daqueles atores, daquelas atrizes, eu e aquele corte, enfim aquela história, então é um dos grandes prazeres que eu tive e que tenho na vida. É o cinema, mas eu adoro a vulgaridade da televisão e o seu cotidiano também, essa coisa da trocar, do falar do dia-a-dia, principalmente uma tv mais comunitária, de uma cidade, uma tv onde as pessoas se expressem são muita estrutura tecnológica, eu deixaria isso mais pro cinema, essa exigência minha de chegar lá e ver uma coisa muito bonita, muito bem fotografada... o cinema me contempla nessa área, e a televisão me contempla nessa situação do dia-a-dia, nessa situação de comunicação mesmo e de uma relação mais mundana, como eu estava falando, mais simplista e ao mesmo tempo de imagem, de uma tecnologia que todo mundo tem acesso a fazer, todo mundo filma, filma pra passar onde? Na internet, na televisão e não precisa ser nenhum artista pra estar fazendo isso, isso também eu vejo como a caneta, que todo mundo escreve mas nem todo mundo é escritor, televisão eu vejo também um pouco como isso, um meio onde as pessoas se expressam e as vezes ainda tem o luxo de você ainda poder ver um filme, coma luz bem baixinha também dentro da televisão de sua casa, então eu acho que essas coisas se confundem e eu goto muito  desse mundo todo do audiovisual.         

A TV pode educar? De que forma a TV pode ser uma ferramenta de transformação social?

Bem, se a TV pode educar ou se a TV pode ser um elemento de transformação eu não tenho nenhuma dúvida. Eu dirigi sete anos uma TV educativa que foi criada por um erro de concepção dos militares na época da ditadura. Eles criaram a TV educativa para ser um elemento de alfabetizar todos os analfabetos do Brasil em quatro anos e isso não é assim. Educação é um processo que precisa de proximidade, que precisa ter escuta, que precisa ter troca e tal. Então não aconteceu; E a TV educativa, essas aulas de televisão, essas coisas, eu não sinto que funciona no formato como sempre foi testado. Agora, acredito que a TV educa no momento que ela abre espaço de motivação, que ela abre outras pontas de conhecimentos, no momento que ele a sai da grade curricular para relacionar com outros mundos, para abrir portas para outros mundos, para outros modos de viver, quando ela se relaciona diretamente com a cultura. Então eu vejo a educação, por exemplo, hoje com uma relação direta com a cultura; A saída para educação é uma relação direta com a cultura e com a comunicação. E nesse sentido, a educação vai prevalecer e vai ser transformadora no momento que ela tiver o forte conteúdo territorial, conteúdo cultural, o conteúdo da inovação e das trocas. Onde as pessoas não sentem uma atrás das outras, uma vendo as costas das outras, mas sentem em círculo, convivam. E a televisão pode funcionar nesse sentido de motivar, como a internet pode também; e como transformação eu sinto que e o processo de democratização da comunicação; nós hoje estamos trabalhando pelo canal da cidadania a possibilidade de cada cidade do Brasil ter quatro televisões publicas, onde o estado, essa caixa preta que e o estado possa dizer o que faz, quem é ele, que as prefeituras possam também demonstrar que projetos têm qual é a politica que executa para a sociedade, e que a sociedade possa ter duas televisões por cidade que possa estar falando de si própria,  cantando tocando, onde possa  desvincular o ser músico, ser cantor de ser sucesso que é a lógica da TV comercial. Então na hora que tiverem contemplando o que esta na legislação de 1988 – A constituição Cidadã - de que a comunicação desse país para dar certo precisa ter a parte privada-comercial , mas é preciso ter a parte estatal e a parte da sociedade,  aí eu acho que nós estamos elaborando a um processo de troca e de transformação, sem dúvida.



O que você faz nas horas vagas?
Nas minhas horas vagas eu gosto de um lazer que traga conhecimento também, mas um conhecimento do outro, mas posso também respirar, contemplar... Eu sou uma pessoa que gosto de andar sozinho, de andar pela praia, eu consigo ficar sozinho, apesar de ter uma vida extremamente agitada sempre trabalhando em equipe. Então eu escolhi para trabalhar as coisas que me dão prazer fazer. Essa que eu acho que e a grande razão da minha dinâmica, da minha vontade de trabalhar: é porque eu faço uma diferença muito forte entre trabalho e brincadeira. Brincadeira é aquilo que você faz só quando quer fazer, e trabalho às vezes não é sempre o que você quer, você faz obrigado. Então tentei juntar essas duas coisas durante minha vida inteira e por isso eu trabalho muito, mas trabalho sempre me distraindo muito no trabalho que eu faço; e nas horas vagas eu gosto muito de estar só, de contemplar, de pensar meu corpo em relação ao universo, em relação ao tamanho do mar, em relação à vastidão da areia, de poder curtir o vento, as coisas, mais intima corporais,  gosto de estar em Lençóis, gosto de estar dentro do serrano tomando banho num buraco que eu acho que é o buraco mais lindo do mundo onde a água bate no meu corpo e muda,  eu saio melhor cada vez, então se eu tivesse que dizer o que mais gosto de fazer nas horas vagas é estar dentro do Serrano tomando banho de água do Rio Lençóis.

O que vale a pena na vida?

O que vale a pena na vida é você não fazer trabalho alienado é você só fazer trabalho que te acrescenta, que cresce, qualquer trabalho, mesmo que seja lavar o chão. Mas você está lavando porque está lavando, porque você tem motivação para aquilo. Eu acho que o que vale a pena na vida é você ter motivação pela vida. A pior coisa, pior que a morte, pior que tudo é você perder a motivação pela vida. Então o que vale a pena é isso: é você estar na pilha de coisa que te acrescentam, que faz você melhor que faz você contribuir com os outros, que você faz troca coma a pessoas que conhece, inclusive com as que não conhece. Eu acho que a motivação talvez seja a coisa que mais vale a pena na vida.
                                                  






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